(às) Considerações
Climáticas
(i) Estudar o clima
do local, usando os dados climáticos médios anuais (precipitação,
temperatura e regime de ventos) de modo a determinar os materiais e o tipo de
envolvente adequados ao edifício. As seguintes considerações devem ser tomadas,
conforme o tipo de clima do local:
· Em clima temperado, devem-se escolher os
materiais atendendo ao local e ao tipo de estratégias de
aquecimento/arrefecimento a utilizar. Em geral, os edifícios nestas zonas devem
ser bem isolados. As considerações arquitetónicas referidas neste ponto são
aquelas que mais se adequam à realidade climática de Portugal, havendo
apenas necessidade de distinguir o clima existente na faixa litoral (temperado-ameno),
caracterizado por temperaturas amenas durante todo o ano, e o clima existente
no interior (temperado-frio), caracterizado por uma baixa humidade
relativa e, consequentemente, com elevadas amplitudes térmicas diurnas, e
Invernos mais frios.
Em clima temperado-ameno,
um estudo cuidado do projeto pode evitar a utilização de sistemas de
arrefecimento/aquecimento auxiliares. Assim, devem-se utilizar soluções
construtivas de elevada inércia térmica, estudar as envolventes de modo a
permitir a captação da radiação solar durante a estação de aquecimento, e a
proteção dos envidraçados durante a estação de arrefecimento (através da
criação de alpendres, implantação de “sombreadores” ou colocação de toldos),
sendo preferível a criação de envidraçados nas fachadas orientadas a Sul e a
minimização dos envidraçados com outras orientações. Deve-se utilizar nos vãos
vidro duplo e caixilharias de corte térmico e os espaços interiores mais
utilizados (sala de estar, escritório, sala de jantar), devem estar situados na
fachada Sul.
Em clima temperado-frio,
como as amplitudes térmicas diurnas são mais elevadas, a utilização de soluções
com elevada inércia térmica é mais importante do que nas zonas de clima
temperado ameno.
As soluções de
isolamento térmico devem ser estudadas ao pormenor, devendo-se reforçar o
isolamento em zonas de potenciais pontes térmicas. Nestas zonas climáticas,
pode ser necessário utilizar sistemas de aquecimento auxiliar, devendo-se
prever sistemas que utilizam energias renováveis.
· Em
clima quente e seco é
aconselhável a utilização de soluções de elevada inércia térmica. A inércia
térmica de um edifício é caracterizada pela capacidade de armazenamento de
calor que o edifício apresenta e depende da massa superficial útil de cada um
dos elementos e materiais de construção.
Nas zonas de clima
quente e seco, os edifícios estão sujeitos a grandes amplitudes térmicas
diurnas pelo que uma elevada inércia térmica ajuda a atenuar e a atrasar as
variações de temperatura nos espaços interiores. A elevada capacidade de
armazenamento de calor dos materiais permite que o calor penetre devagar
através das paredes e da cobertura.
Após o pôr-do-sol a
temperatura exterior nestes locais tende a baixar acentuadamente e a elevada
massa térmica dos edifícios atua como volante de inércia – de dia os espaços
interiores estão mais frescos que o ambiente interior e à noite verifica-se o
inverso. As aberturas na envolvente devem ser estudadas de modo a permitirem o
controlo de entrada direta da radiação solar.
Assim são de evitar as
aberturas orientadas a Este e a Oeste, devendo-se optar pela criação de
aberturas orientadas a Sul (orientadas a Norte se o local fica situado no
hemisfério Sul), devidamente sombreadas, de modo a não permitirem a radiação
solar direta no Verão, mas de modo a admiti-la no Inverno.
Nos edifícios
tradicionais destas zonas climáticas é possível observar certas soluções
arquitetónicas que revelam que os seus projetistas tiveram em conta os aspetos
mencionados: as soluções arquitetónicas existentes são caracterizadas por
paredes exteriores de elevada espessura, construídas com materiais de elevada
massa, como a alvenaria de pedra e o adobe.
· Em
clima quente e húmido (tropical) a
elevada humidade relativa existente na atmosfera actua como volante de inércia
nas flutuações de temperatura, não havendo grandes diferenças entre os picos de
temperatura diurna e a temperatura mínima verificada após o pôr-do-sol. Assim,
é aconselhável a utilização de materiais com baixa massa térmica, devendo-se
optar sistemas construtivos de baixa massa.
Nas construções
tradicionais destas zonas climáticas, por vezes, utilizam-se materiais
higroscópios, que absorvem parte das elevadas concentrações de humidade
existente nos espaços interiores, devolvendo-a ao ambiente quando o teor de
humidade baixa.
Nestas zonas, de modo a
maximizar as perdas de calor por convecção deve-se: maximizar a área da
envolvente, preferindo a criação de plantas onde os edifícios possuem a mesma
largura dos compartimentos interiores; favorecer a circulação interior de ar
(ventilação cruzada) através da criação de aberturas nas fachadas orientadas a
Norte e a Sul, devidamente protegidas contra a radiação solar direta e
localizar os edifícios em zonas sujeitas a brisas.
De modo a se
minimizarem os ganhos de calor deve-se: localizar os edifícios em locais com
baixa exposição solar (por exemplo rodeados de vegetação); utilizar materiais
claros no acabamento exterior e no revestimento das coberturas; criar alpendres
na periferia do edifício, impedindo os ganhos diretos através dos vãos;
utilizar sistemas de isolamento térmico refletivo e barreiras “pára-vapor”
· Em clima frio deve-se proteger a envolvente da ação dos
ventos e utilizar grandes espessuras de isolamento térmico. A inércia térmica
dos materiais a utilizar neste clima vai depender da estratégia escolhida para
o aquecimento dos edifícios. Em edifícios onde seja de prever a ocupação
intermitente não é aconselhável a escolha de materiais com elevada massa
térmica, pois a massa térmica atrasa o aquecimento dos espaços interiores até
se atingir a adequada temperatura de conforto, aumentando consequentemente os
gastos energéticos.
Em edifícios ocupados
continuamente, os materiais de elevada massa térmica atrasam o arrefecimento
dos espaços interiores, o que favorece a redução dos consumos energéticos. Os
edifícios nestas zonas climáticas devem ser concebidos de modo a possuírem
envolventes com a menor área possível, pois quanto maior for a área da
envolvente maiores serão as perdas energéticas.
(ii) Estudar a geometria solar
do local.
Os ganhos solares na cobertura,
paredes e envidraçados, podem contribuir tão positiva como negativamente para
as necessidades de aquecimento, arrefecimento e conforto dos ocupantes. Só o
amplo conhecimento da geometria solar do local de implantação do edifício
permite a concepção adequada da envolvente.
(iii) Estudar o tipo
de envidraçado a aplicar nos vãos.
Atualmente, são
fabricados vários tipos de envidraçado com características solares distintas,
que importa conhecer de modo a otimizar o comportamento dos envidraçados. Os
envidraçados podem apresentar camadas metálicas ou pigmentos superficiais de
modo a absorverem ou refletirem determinados comprimentos de onda do espectro
solar, sendo caracterizados em função das suas características
espectrofotométricas: fatores de transmissão, de reflexão e
absorção energéticos; fatores de transmissão e de reflexão
luminosos e fator solar. Os envidraçados devem permitir a passagem dos
comprimentos de onda do espectro visível, enquanto refletem outros comprimentos
de onda, como os de infravermelhos (responsáveis pelo aquecimento) e os raios
ultravioleta (nocivos ao Homem e a certos materiais de construção).
É possível controlar o
excesso de calor e a entrada dos nocivos raios ultravioleta sem afetar a
iluminação. Em suma, no que respeita à proteção solar dos envidraçados devem
ser considerados três objetivos:
· Diminuição
dos ganhos solares na estação de arrefecimento (fator solar mínimo);
· Diminuição
das transferências de calor entre o exterior e o interior (coeficiente de
transmissão térmica mínimo);
· Maximização
da transmissão luminosa (fator de transmissão luminosa elevado).
Sugestões Equilibradas
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